O Rio Grande do Sul entrou definitivamente em minha vida no ano de
1979, quando nos transferimos de “mala e cuia” de
Minas Gerais (onde eu trabalhava na CENIBRA – Celulose
Nipo Brasileira S.A.) para a cidade de Guaíba, onde passaria
a encontrar novos desafios na Rio Grande – Cia de Celulose
do Sul – Riocell. Na época, sequer imaginávamos
que tínhamos vindo ao Rio Grande “para passar o
resto de nossas vidas”, como acreditamos hoje, eu e minha
esposa Lorena. Tanto as nossas atividades profissionais, como
as realizações familiares, a beleza da região
e as características do povo e das estações
do ano acabaram nos mantendo no estado do RS.
Como
tem sido minha marca registrada, que é a contínua busca
do conhecimento e da educação profissional via interações,
logo ao chegar ao RS busquei parcerias com os centros educacionais
e de pesquisa acadêmica da região. Com alguns deles
conseguimos notáveis êxitos; entretanto, com outros,
nem tanto. Evidentemente, as dificuldades de imagem e de relacionamento
que a empresa Riocell apresentava nos anos 70’s e 80’s
dificultavam as parcerias com algumas instituições
(que desconfiavam das intenções e metas da empresa
e das pessoas da empresa), mas promoviam e aceleravam outras. Algumas
dessas interações mais fortes aconteceram com a cidade
de Pelotas, graças à presença de pessoas com
as quais nosso reconhecimento pelo talento das mesmas e a amizade
foram alavancadores de parcerias técnicas e educacionais.
A
cidade de Pelotas sempre teve destaque nos temas culturais no Brasil.
Isso acontece desde a época imperial, quando ela teve enorme
projeção pela valorização da cultura
por seus habitantes. A cidade dispõe de renomadas universidades
e centros educacionais (Universidade Federal de Pelotas, Universidade
Católica, ex-Escola Técnica Federal de Pelotas, etc.),
bons museus, bibliotecas e casas de cultura. Por essa razão,
conheço Pelotas desde 1968, quando visitei pela primeira vez
a UFPel, para conhecer o seu renomado curso de agronomia. Naquela época,
eu estudava agronomia na Escola Superior de Agricultura “Luiz
de Queiroz” em Piracicaba, São Paulo. Graças
a um estágio de férias que fiz em Lages/SC, na antiga
Olinkraft, com o amigo florestal Pieter Prange, dei uma esticada
ao Rio Grande do Sul para conhecer Porto Alegre, Torres e Pelotas
(e sua faculdade de agronomia).
A
região sul do estado do RS vive momentos de transição
econômica. Depois de florescer como produtora de arroz e de
frutas temperadas (pêssegos, nectarinas, maçãs,
etc.), a região parece que está despertando para a
silvicultura e para a produção de madeira. A chamada “Costa
Doce” do Rio Grande do Sul abrange os municípios que
são banhados e influenciados pelo conjunto de lagos e lagoas
que são o Lago Guaíba e as Lagoas dos Patos, Mirim
e Mangueira, compondo um dos maiores complexos lagunares da América
Latina. Essa região está trocando gradualmente a pecuária
pelas plantações de florestas comerciais, com espécies
do gênero Eucalyptus e Acacia. Já existe um pólo
de exportação de cavacos de madeira de acácia
negra na região e há interesse em se desenvolver a
produção de outras utilizações para a
madeira, como a produção de celulose de mercado, painéis
de madeira e móveis. Acredita-se que um pólo madeireiro
surgirá na região, tão logo apareça alguma
grande empresa âncora que tenha amplas áreas reflorestadas.
Isso deve acontecer em breve, esperamos. Por essa razão e
para alavancagem desse novo perfil industrial, a cidade já criou
inclusive um curso de “Engenharia Industrial Madeireira” na
UFPel - Universidade Federal de Pelotas.
ETFPel – Escola Técnica Federal de Pelotas
(hoje IFSul – Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia Sul-Rio-Grandense)
A
primeira de nossas parcerias de sucesso aconteceu com a Escola Técnica
Federal de Pelotas, através de nosso grande amigo Dr. Wagner
Gerber. Wagner havia sido um funcionário dedicado e talentoso
na Riocell ao longo dos anos 80’s (na época era técnico
químico e depois técnico em celulose e papel, formado
pelo curso que a Riocell mantinha com o Instituto Estadual de Educação "Gomes
Jardim”). Após esses cursos profissionais, ele se graduou
em Licenciatura em Química pela Universidade Católica
de Pelotas, passando a residir em Pelotas. Sua dedicação
profissional logo o colocou como professor e pesquisador na ETFPel,
onde teve papel de destaque na montagem e operação
do LACE – Laboratório de Celulose e Efluentes (fundado
em 1993) daquele centro educacional. O LACE, na sua origem, teve
apoio decisivo da Riocell na forma de treinamento de pessoal, doação
de alguns equipamentos e materiais, bibliografias e desenvolvimento
de clientes e mercados (clientes importantes como Veracel, Votorantim
Celulose e Papel, etc.). O LACE também foi base para desenvolvimento
do projeto sobre utilização da palha e casca de arroz
para produção de celulose não-branqueada e papelão,
que foi gerado nos laboratórios do LACE em Pelotas e da Riocell
em Guaíba. Com esse trabalho científico e tecnológico,
nosso amigo Wagner Gerber conseguiu o Prêmio “Jovem Cientista” na
categoria “Reciclagem de Rejeitos Industriais”, em 1990,
uma honraria concedida pelo CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico, Fundação Roberto
Marinho e grupo Gerdau. Isso foi um grande estímulo para obtenção
de recursos adicionais para o crescimento do LACE (FAPERGS – Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, FINEP – Financiadora
de Estudos e Projetos, CNPq, Riocell, etc.) e para aperfeiçoamento
do Wagner, que conquistou o doutorado pela Universidade de León,
Espanha, em 2004. Para seu doutoramento, ele estudou o reuso dos
efluentes (fontes diversas, inclusive da Riocell) na eficiência
das estações de tratamento, bem como alternativas naturais
para este tratamento. Com a motivação conquistada,
Wagner e seu irmão Michel fundaram a Ecocell – Projetos
e Consultoria Ambiental, em 1992, a qual tem ainda mais dois sócios:
Darcy Gerber e Elias Dummer. A Ecocell era e ainda é fonte
de novas conquistas de empresas industriais, que retro-alimentavam
o LACE e a ETFPel (estágios e novos empregos para os formandos
da escola técnica). Enfim, estava criada naquela época
uma rede de parcerias bem ao estilo ganha-ganha para a educação
tecnológica de pessoas e pesquisas de interesse técnico
aplicado.
Talvez
em função desse apoio que colocamos à disposição
da ETFPel na época, recebi da mesma uma das mais significativas
homenagens profissionais de minha carreira. Em 1989, fui reconhecido
por aquela escola como “Amigo
da ETFPel”, uma honraria
que poucos possuem e que muito aprecio e valorizo. Por isso, gostaria
de colocar aqui meu agradecimento e reconhecimento àquela instituição
e também aos amigos e professores daquela época: Wagner
Gerber, João Manuel de Souza Peil e Renato Meireles.
São
privilégios que tenho - muitos amigos e algumas honrarias
como essas – das quais só posso me orgulhar e dividir
essas alegrias com vocês, amigos e leitores desse website.
CEIMAD – Curso de Engenharia Industrial Madeireira – UFPel – Universidade
Federal de Pelotas
A
outra interação tecnológica
que desenvolvi na cidade de Pelotas é bem mais recente. Ela
também ocorreu
em função da amizade e reconhecimento que tenho por alguns
talentosos ex-alunos que tive no final dos anos 90’s e começo
do atual século na UFSM – Universidade Federal de Santa
Maria. Ali, enquanto professor, tive diversos alunos de pós-graduação
que se destacaram pela dedicação, motivação
e competência. Coincidentemente, e para o sucesso na alavancagem
do novo curso em Pelotas, quatro de meus ex-alunos da UFSM acabaram
sendo contratados e efetivados por concurso público como professores
da recém-criada carreira em “Engenharia Industrial Madeireira” na
UFPel. São eles: Cristiane Pedrazzi, Darci Alberto Gatto, Leonardo
da Silva Oliveira e Merielen de Carvalho Lopes.
O
novo curso foi criado em 2006 e opera com algum apoio de instituições
e empresas locais, mas com dificuldades, pois a indústria de
base florestal está em fase de transição no estado
do RS. Entretanto, seu potencial é enorme e a qualificação
humana é excepcional. Isso foi inclusive referenciado em recente
avaliação feita ao curso pela Comissão Nacional
de Avaliação da Educação Superior do MEC – Ministério
da Educação.
No
ano de 2011, comecei a re-planejar minha vida profissional para os “próximos 15 anos”, enquanto
ainda acredito que ela possa ser produtiva. Fiz uma projeção
de quais capítulos
do Eucalyptus Online Book ainda pretendo escrever e quais os possíveis
temas a abordar nos informativos digitais Eucalyptus Newsletter e PinusLetter.
Com isso, notei que minha extensa biblioteca estava definitivamente “sobrando” em
muitos aspectos. Havia ociosidade e desperdícios para alguém
formado e praticante de ecoeficiência como eu. Como essa biblioteca
particular que montei ao longo de minha vida é uma das melhores
bibliotecas sobre celulose, papel, madeira, florestas, gestão
e inovação, decidi que estava na hora de reparti-la com
algumas instituições selecionadas conforme a área
de especialização.
Lembrei-me
de imediato de meus ex-alunos da UFSM, agora começando
um curso novo na UFPel e, com certeza, tendo dificuldades em literatura
especializada. Falei com eles, em especial com a Cristiane e o Gatto – expliquei-lhes
que poderia doar muitos livros, revistas, artigos e arquivos sobre
temas relevantes aos alunos e professores do curso de engenharia industrial
madeireira, mas que eles deveriam “cuidar bem dos livros”,
em contrapartida. A adesão à idéia e o entusiasmo
entre as partes foi grande e imediato. Nossos amigos, através
da liderança da professora Cristiane, cuidaram para obter recursos
acadêmicos para montagem de uma Sala de Estudos, especializada
nesses temas e dentro das instalações onde são
ministradas as disciplinas do curso de EIM. O resultado foi a criação
de uma área de adequadas dimensões, com excelentes prateleiras,
mesas de estudo, computadores e pessoal de apoio (os próprios
estudantes colaboram com isso). A essa sala, generosamente a denominaram
de “Sala de Estudos Professor Dr. Celso Foelkel”. No dia
26/09/2011, durante a VI Semana Acadêmica do Curso de Engenharia
Industrial Madeireira, lá estive para apresentar uma palestra
sobre “Sustentabilidade em Plantações Florestais
no Brasil” e para a inauguração dessa sala de estudos,
com direito à presença de muitos alunos, autoridades
da universidade, jornalistas, etc. Uma emoção enorme
e uma grande alegria por ver meus livros, artigos e revistas, agora
sendo usados por alunos em pleno processo de formação
e crescimento profissional. São justamente esses alunos de hoje
que serão os profissionais que estarão comandando e atuando
nesse setor industrial em alguns poucos anos mais. São alguns
deles também que substituirão a minha geração
de profissionais no setor florestal brasileiro.
Agradeço de coração
a homenagem aos professores e professoras Cristiane, Darci, Leonardo,
Merielen, Érika da
Silva Ferreira, Carlos Antonio da Costa Tillmann e ao professor Manoel
Luiz Brenner de Moraes, vice-reitor da UFPel. Juntos cortamos a fita
de inauguração de mais um espaço cultural na cidade
de Pelotas. Fico feliz e gratificado em ver “os livros de minha
biblioteca” compartilhados com pessoal motivado e batalhador.
Obrigado
amigos de Pelotas, conto com vocês e com sua motivação
para o desenvolvimento com sustentabilidade do setor industrial e de
base florestal no Brasil, e em especial no Rio Grande do Sul.
Sucessos
a todos.
Links relacionados ao curso de Engenharia Industrial
Madeireira da Universidade
Federal de Pelotas
http://wp.ufpel.edu.br/ceimad/ (Curso Engenharia Industrial
Madeireira)
http://wp.ufpel.edu.br/ceimad/2011/09/29/engenharia-madeireira-inaugura-sala-de-estudos-professor-celso-foelkel/(Inauguração da Sala de Estudos Professor Dr. Celso Foelkel)
http://www.ufpel.edu.br/revistas/index.php/cienciadamadeira (Revista Ciência
da Madeira)
http://www.ufpel.edu.br/ (Portal da UFPel – Universidade Federal de Pelotas)
http://www.ufpel.edu.br/tede/ (Biblioteca digital de teses
e dissertações – TEDE UFPel)
http://www.ufpel.edu.br/prg/sisbi/bibct/acervodigital.php (Sistema de bibliotecas – Acervo
digital da UFPel)
http://wp.ufpel.edu.br/simposecagem/programacao/ (Simpósio sobre Secagem
da Madeira)
Galeria
de fotos e apresentações acerca do Curso de
Engenharia Industrial Madeireira da Universidade Federal de Pelotas
Galeria
de Fotos da Inauguração e Utilização
Posterior da Sala de Estudos Professor Dr. Celso Foelkel na Universidade
Federal de Pelotas – Curso de Engenharia Industrial Madeireira. C. Foelkel. Apresentação
em PowerPoint: 17 slides. (2011/2013)
Universidade Federal de Pelotas e o Curso de Engenharia Industrial
Madeireira. UFPel – Universidade Federal de Pelotas. Apresentação
em PowerPoint: 54 slides (2008)
Introdução à Engenharia
Industrial Madeireira. C. Tillmann. UFPel – Universidade Federal de Pelotas. Apresentação
em PowerPoint: 54 slides. (2008)
Links atuais sobre o IFSul (ex-ETFPel) e outros websites associados a esse
Relatos de Vida
http://www.ifsul.edu.br/site/ (Website do Instituto Federal
de Educação,
Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense)
http://www.ifsul.edu.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=20&Itemid=45 (Histórico do IFSul desde a fundação originalmente como
Escola de Artes e Ofícios em 1917 e sobre a conversão para ETPel
em 1965)
http://www.ecocell.com.br/ (Ecocell – Projetos e Consultoria Ambiental – empresa
de nosso amigo Dr. Wagner Gerber)